quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Tempo

O tempo parou.Uma fracção de segundo que parecia uma eternidade. Uma fracção de segundo que durou uma vida inteira. Uma fracção de segundo capaz de mudar o mundo. Nessa fracção de segundo ela reviu toda a sua vida. Pensou em tudo o que poderia fazer e nas consequências que o seu acto poderia ter. Nessa fracção de segundo teve de escolher entre cortar a cabeça dos seus inimigos ou seguir em frente. Estava numa encruzilhada. Independentemente da acção que tomasse sabia que ia sofrer e causar sofrimento aos inocentes que a rodeavam. E agora?O que faço?Nessa fracção de segundo em que o seu mundo parou ouvia apenas o som da sua respiração. Ouvia apenas os seus receios, sentia o frio da traição no seu peito e o calor da vingança na sua mente. O tempo continuou e ela decidiu. Decidiu fazer o que era certo mas depressa se apercebeu que aquela fracção de segundo tinha sido tempo demais. O seu mundo ruiu. Viu os inocentes que tentava proteger caídos no chão de terra suja. Viu a inocência perdida esvair-se como um grande rio que nunca pára. Ninguém pode reter as águas revoltas tal como a inocência não se pode recuperar. Olhou para si e viu as suas mãos manchadas de sangue, o sangue que tentara em vão evitar. E a seus pés, pedindo clemência viu os verdadeiros inimigos, aqueles que deveriam jazer no chão, vivos e sem qualquer dano visível. Começou a chover, e na poça que apareceu a seus pés viu o seu reflexo. Parecia uma rainha de gelo, uma guerreira impiedosa, os seus olhos não tinham calor. As lágrimas misturavam-se com as gotas de chuva que molhavam tudo. Quem sou eu para decidir a vida e a morte?Deixou cair a sua espada no chão e voltou costas a quem lhe pedia clemência. Com a espada deixou a amargura e a dor do campo de batalha. Pois apesar de ser vencedora na verdade sentia-se vencida. Tudo numa fracção de segundo. Sentiu como se tivessem arrancado a vida de dentro dela. Não era capaz de olhar as verdadeiras vítimas da sua batalha. Também ela era uma vítima, com a diferença de ter sobrevivido. Seria um fardo que carregaria para sempre.**************************************************************** Acordou sobressaltada. Não passava de um sonho. Um sonho real demais. Um sonho que representava uma vida. O seu campo de batalha era o seu quotidiano e as vítimas as pessoas que amava e magoava mesmo sem querer e sem saber enquanto tentava fazer o que era melhor para todos, não necessariamente o que era melhor para si… Percebeu que às vezes, por medo de errar ou por falta de coragem demoramos tempo demais a agir e que aquilo que por vezes é apenas uma fracção de segundo para nós significa uma vida perdida para alguém.Colocou uma fita negra no pulso por todas as vítimas que perecem nos campos de batalha espalhados pelo mundo. E por si, tantas vezes caída nos campos de batalha alheios… TM vencida numa batalha ganha

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