sábado, 31 de maio de 2008

De costas voltadas

Primeira discussão. Sem motivo aparente, eu estou mais sensível, ele menos compreensivo. Uma brincadeira mal interpretada e está tudo desfeito. Parece que falamos línguas diferentes porque estamos ambos a dizer o mesmo e não nos compreendemos. Não chegamos a um consenso. Caem as primeiras lágrimas dos meus olhos, as lágrimas que tanto quis evitar… A frieza de cada palavra atinge-me de forma mais letal que chumbo. Dou-me por vencida e vou para a cama. Choro até adormecer, a almofada húmida com a minha dor. Sou uma parva, sei que é uma simples discussão mas afecta-me mais que de outras vezes, que em outras discussões quem sabe até mais graves. Nunca pensei um dia partilhar a cama com alguém como ele… Ele é tão perfeito para mim e eu sinto que não sou o que ele precisa. Ele pensa o contrário… Considera-me melhor do que realmente sou, vê em mim uma mulher com atractivos e virtudes, uma mulher com força e garra… Mas é ilusão dos seus olhos apaixonados. Nunca o quis magoar, nunca quis que ele me magoasse a mim. Mas na ânsia de fazer o que é correcto, de fazer o bem, acabamos sempre por nos atrapalhar e magoar quem mais amamos. No promises, no commitment. Esta e a chave da nossa relação. Deixamo-nos livres mutuamente, enquanto houver sentimento vamos continuar juntos. Tenho um sono agitado. Sonho que te quero alcançar e não consigo, escapas-me por entre os dedos. Sinto-me cair num precipício sem fim e acordo sobressaltada. O meu coração bate a uma velocidade incrível e quase me sinto nauseada. Será um prenúncio do que está para vir? Não quero acreditar nisso, nem quero pensar nessa possibilidade. Sempre soube que podia acontecer e que estava tudo contra nós… Mas acabei por me envolver demasiado. Ouço-te a apagar as luzes da sala, ouço os teus passos em direcção ao quarto. Permaneço imóvel no meu lugar, não sei se quero que saibas que ainda estou acordada ou se devo fingir que durmo… Não te quero mentir, mas não quero admitir que estou a sofrer. Entras no quarto e despes-te às escuras. Deitas-te na cama mesmo a meu lado, mas hoje não me abraças como nas outras noites, hoje não me beijas suavemente nem me tocas, não aconchegas o lençol a mim nem confirmas que já durmo. Sinto que os meus olhos ardem de novo, mas não vou chorar mais. Estamos de costas voltadas e é a pior sensação do mundo. Não quero dormir contigo magoada e receosa do que o futuro nos reserva! Acendo a luz e sento-me na cama. Ergues-te também e vejo que os teus olhos estão tão vermelhos como os meus devem estar. Vejo as mesmas dúvidas e a mesma dor na tua expressão. O que dizer quando as palavras nos abandonam? Deixei o silêncio falar, e no silêncio do nosso olhar finalmente conseguimos comunicar. Os nossos corações são o melhor tradutor e conseguimos, com aquele olhar ver que afinal estamos juntos e não um contra o outro. Tudo no silêncio de um olhar… Abres os braços e refugio-me neles, o teu odor invade-me e sinto a textura do teu peito contra o meu rosto. Abraças-me com tanta força que chega a doer mas neste momento quero sentir-te. Quero que me abraces e não voltes a largar. Suspiras e sinto que estás tão aliviado quanto eu… beijas-me e deitamo-nos os dois para dormir abraçados com a certeza que tudo se vai resolver… Enquanto cada bom momento compensar os maus que passamos, enquanto o sentimento que nos une for forte o suficiente… Para alguém especial... TM 30/05/2008

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