sexta-feira, 9 de maio de 2008

(sem título)

Sinto como os quilómetros serem devorados pelo carro. Cada segundo me leva para mais próximo de ti. Acelero mais um pouco. Quero chegar rapidamente ao meu destino. Quero ver-te outra vez. Sentir-te junto a mim. Abraçar-te e beijar-te e provar-te que me fazes feliz. Sorrio. Recordo tudo o que de bom já aconteceu entre nós. Todos os sorrisos e lágrimas, gargalhadas e momentos de pura compreensão. Sou uma sortuda! Encontrei o homem perfeito para mim. Tu, só tu e mais ninguém. Lembro-me de como fomos para a praia na noite do nosso casamento. Como corremos e rimos ainda vestidos a rigor e brincamos como crianças. Sinto outra vez a suave carícia do vento na minha pele, vejo o brilho dos teus olhos e sinto o frio do mar nos meus pés descalços. O mar não me refresca desta vez… magoa-me. E conforme me toca sinto-me elevar para outra dimensão. E a dor acaba. Ouço vozes longínquas que gritam palavras incompreensíveis. Sinto medo. Porque não consigo abrir os olhos? Frio. Vazio. Medo. Pânico. O que se passa? Finalmente abro os olhos e observo a cena. É o meu carro… Porque não estou lá? Passam pessoas por mim mas não me tocam. Tento falar mas a voz não sai da minha garganta. O que se passa? Respiro fundo e tento acalmar-me. Observo melhor a cena. O carro deita fumo, está na estrada que ainda há uns segundos percorria. O vidro da frente está estilhaçado. Terei tido um acidente? Aproximo-me e vejo os bombeiros que estão atarefados em volta do carro. Se eu estou cá fora que querem eles lá de dentro? Indigno-me com a falta de atenção que me dão. Afinal se tive um acidente deveria no mínimo estar a ser assistida, não? Sem me aperceber já estou em frente ao carro. Mas ainda agora estava na parte de trás. Ainda estou desorientada. Olho para dentro do carro mas um espelho bloqueia-me a visão. Espera… Não é um espelho. Sou eu… eu? Não pode ser! Como é possível? Morta… Sinto-me elevar novamente. Estou em casa. Ele está sentado no sofá. Espera ainda por mim. Não sabe… olha para o relógio… Aguarda-me a qualquer instante. Tem saudades minhas e não passamos mais de 4 horas afastados. Dou dois passos e estou ao lado dele. Beijo-o mas não o sinto. Ele estremece. “Amo-te” Ele levanta a cabeça. Será que me ouviu? Ouviu-me o seu coração… Sei que sim. Pega no telemóvel e marca o meu número mas não faz a chamada. Sabe que não atendo enquanto conduzo. Respira fundo e volta a sentar-se. Pensa que foi apenas um simples arrepio. Não sabe o que aconteceu. Queria poder falar contigo uma última vez e dizer-te que lamento… Não devia ter acelerado, não devia ter sequer saído! Perdoa-me. E promete-me que serás feliz! Promete-me que não vais desistir da vida e que vais realizar todos os nossos sonhos… Promete-me que vais voltar a amar alguém. Eu sei que sim. Vejo uma luz que me dá calor e me envolve. Vou partir. Adeus.
TM 09/05/2008

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