segunda-feira, 14 de abril de 2008

A cama está fria - Segunda Parte

Abro os olhos e observo o tecto do quarto. Sinto-me vazia, sem vida mas não percebo porquê. Tenho os olhos pesados e doridos, a almofada ainda está húmida. Terei Chorado até adormecer? De repente as dolorosas memórias da noite anterior assaltam-me a mente. Como pode algo tão lindo, tão perfeito, causar tanta dor? Quero desaparecer e esquecer-me que algum dia ganhei a coragem de dar o passo. Por momentos pensei que estávamos em sintonia! Real sintonia daquela que só há nos livros... Devia saber que coisas assim não acontecem a pessoas como eu. Vergonha... Mas vergonha de quê? De ter tido coragem de assumir o que sinto? De ter pensado que finalmente a vida me sorria? Sorrio e abano a cabeça. Um sorriso sem alegria, um sorriso de desespero. Levanto-me lentamente e noto que apesar de ter estado parte da noite na minha cama ela continua fria, gelada. Também eu estou fria, como se o calor do meu corpo se tivesse perdido quando me separei dele. Vou até à casa de banho onde espero que um duche rápido me refaça do choque. O reflexo do espelho mostra um rosto pálido, sem brilho, olhos vermelhos e inchados, olheiras profundas... Nem pareço eu. A água quente relaxa-me e devolve-me um pouco do calor que pareço ter perdido. Faço o ritual de todos os dias. Limpo cada parte do meu corpo e passo a loção. É algo que já faço mecanicamente. Mas noto que tenho o corpo mais sensível. Tenho marcas da noite fantástica que passei... Fantástica até ao último segundo claro. Novas lembranças me assaltam pela segunda vez. Mas desta vez não sinto a humilhação da rejeição mas o prazer do toque. Sinto-me corar, sinto-me estúpida por ainda sentir o mesmo amor apesar de tudo, sinto-me excitada um vez mais. Respiro fundo e afasto os pensamentos. Tento não pensar em nada enquanto visto o robe e sai da casa de banho. Tenho a toalha na mão e vou esfregando vigorosamente o cabelo para o secar. O instinto alerta-me que não estou só. Levanto os olhos e vejo o homem que me atormenta os pensamentos sentado na minha cama. Também ele tem olheiras e a barba incipiente demonstram que não deve ter dormido. Suspeito que tenha abandonado não só o quarto mas tambéms a casa. Claro que nem me apercebi, de tão atordoada que estava. "Temos de falar" diz brevemente sem levantar o olhar. Todos os sentimentos se convertem em fúria! Ele é que procede mal, tem uma atitude no mínimo estranha e depois nem tem a decência de me olhar nos olhos? "Falar? Parece-me que ontem foi tudo muito claro" não consigo evitar que a voz trema. Sei que ele nota a minha mágoa, sei que nota o meu ressentimento. De estranhar seria que não o notasse! Afinal moramos juntos há meses e conhecemo-nos há anos... "Sei que estás magoada..." "Não! Tu não sabes nada! Enganaste-me e era a única coisa que não esperava de ti... Sabes que não sou uma rapariga de ter casos de uma noite só! Aproveitaste-te de mim, Tiago, e isso nunca te vou perdoar..." Todas as lágrimas que não chorei ontem acumulam-se nos olhos. Sinto as faces coradas mas desta vez não é devido às caricias experientes, é devido a raiva que sinto no meu peito! Sinto-me explodir por dentro e só me apetece ter uma atitude irreflectida e esbofeteá-lo! Mas sei que não iria resolver nada, apesar de me fazer sentir melhor... Possivelmente. "Nôno, tu não sabes o sufoco que passei! Sempre gostei de ti, mas eras uma miúda! A irmã do meu melhor amigo" olho com incredulidade. No fundo do meu coração queria acreditar nas palavras que me dizia, mas o senso comum alertava-me. Sei que os homensdizem tudo para manter a cama quente. "Quando disseste que te ias mudar para aqui, nem acreditei! Pensei sinceramente que não podia ter tanta sorte. Vieste. Não como a irmã do meu melhor amigo, mas como uma jovem mulher que se tornou na minha melhor amiga. Compreendes porque nunca disse nada? Não queria perder o que temos, ou tínhamos, nem sei..." Levanta os olhosque, vejo agora, estáo marejados com lágrimas. Será verdade? Arrisco-me a acreditar? "Não faz sentido... nunca demonstraste nada" "Claro! Eras uma criança quando te conheci, continuavas uma menina quando vieste para aqui... Mas sempre te amei Leonor, sempre!" Uma pequena réstia de esperança volta a acender-se no meu peito. Será possivel? Terá sido um mal entendido? Apetece-me lançar-me nos braços dele para recuperar novamente o calor do meu corpo. Mas preciso de ouvir tudo. "Então porque me rejeitaste?" reparo que continuo com a toalha encostada ao cabelo. Dobro-a e encosto-a ao peito como se fosse um escudo protector. "Se me amas como dizes, não entendo o que se passou ontem... Foi tudo tão perfeito, tão bom..." "Eu..." o suspiro de frustração apaga a chama dentro de mim. Algo não está bem, sei-o agora mas desconfio que sempre soube, desde que o vi sentado na cama do meu quarto. "Nôno eu envolvi-me com outra pessoa... Claro que te amo a ti e é contigo que quero estar. Compreende que agora que sei que também sentes o mesmo por mim eu vou rectificar a situação. É contigo que quero estar, se tu também quiseres. Quero que sejas minha como foste ontem e ter-te junto a mim" Levanta-se da cama e chega até mim. Pega na minha mão e beija-me os dedos suavemente. A sua voz não é mais que uma carícia "Quero-te" Não sei como mas a toalha que já poucos segundos agarrava contra o meu peito como se da minha propria vida se trata-se caiu-me aos pés. Estava novamente nos braços dele e rapidamente voltei a sentir o fogo dentro de mim. Cada beijo me enlouquecia mais e mais, cada caricia, cada suspiro. Não conseguia pensar, não podia respirar, era demais. Oh como eu amo este homem! Sentir as suas mãos que me abrem tão agilmente o robe e tocam a minha pele núa outra vez. sinto as mãos a percorrerem-me os seios e que são substituidas pela língua ávida de desejo, que me acariciam a ponto da loucura. Sinto como os dedos ágeis me separam as pernas e me levam a novo cumo de prazer mas sinto-me estrenhamente lúcida. "Não" A palavra é apenas sussurrada mas consigo encontrar forças para o empurrar. "Não?" a incredulidade misturada com o golpe no ego masculino "Que queres dizer com não?" "Quero dizer apenas que ontem não sabia que eras comprometido" disse enquanto fechava o robe "Mas hoje sei... e se fazes isso com a tua actual companheira, que confiança vou ter em ti no futuro? Como vou saber que não me vais trair se encontrares 'outra' Leonor?" Abanei a cabeça ao ver a incredulidade no olhar "Esquece! Eu não sou assim." Ignorei a presença dele, que pelos vistos ficou sem reacção. Tirei roupa do meu armário e vesti-me como se estivesse só. Sai do quarto sem olhar para trás. Continuo com a minha cama frio, mas a dignidade intacta. TM 14/04/2008

1 comentário:

freshmigo disse...

Amiguinha ... acredito k tudo o escreves é sentido, e por isso tens a minha compaixão, a minha "pena", mas és uma Mulher GRANDE !!
Beijão grande amiguinha !!